Esta edição foi escrita acompanhada de um incrível Arara fermentado 48 horas, torrado por Los Baristas e extraído por uma v60
A lida do escritor (mesmo um pouquíssimo publicado como eu) fundamenta-se em habitar num mundo com excesso de informações e escassez de ideias. Mesmo antes da big data, esta materialização desmaterializada da entropia, as informações disponíveis já circulavam por meio do princípio da aleatoriedade, gerando tantas possibilidades quanto confusões.
Ao tempo em que esta aleatoriedade, agora programada, gera mais confusão do que possibilidade, volta e meia acerta o nervo do escritor atrás de ideias ou de pautas. A edição de hoje nasceu assim. Uma informação pescada da big data por “acaso” a inspirar uma ideia para esta nossa discussão semanal sobre as agruras do trabalho.
Conheci Verônica por meio de uma animação. Ela aparece em traços diferentes por alguns perfis no TikTok, tipo o @ HumorAnimations. Mas, como muita coisa nas mídias sociais, trata-se apenas de gente chupinhando conteúdos originais de alguém e reeditando sem dar os devidos créditos — jornalistão que em mim habita julga quem assim age.
Foi até difícil rastrear a Verônica de verdade. Seu nome, para começar, é Veronika Rivera. E pode ser encontrada pelos perfis @ _v_xoxo no Instagram ou @ vxo13 no TikTok — vídeos todos em língua inglesa. Verônica, com toda a franqueza da personagem de si que acompanhamos no perfil, faz um vídeo-disclaimer no qual defende sua autoria e esclarece (para usar termo brando) que as esquetes animadas baixam o seu áudio para recriá-lo em nova mise-en-scene.
Esta é Verônica em ação
Verônica hoje é das minhas. Antigamente não seria. Estaria do lado de quem a julga e a crítica como uma “colega difícil”. Mesmo assim, ela representa um dilema do novo zeitgeist das relações de trabalho.
Veronika é uma trabalhadora latino-americana da área de costumer service, provavelmente telemarketing, como deixa implícito nas suas esquetes. Há uma questão central que ela expõe para o mundo das relações de trabalho: o cliente nem sempre tem razão. Frase esta que representa a máxima capitalista da submissão ao poder (o cliente por ter o dinheiro e o patrão por ser dono da vaga).
Verônica irônica. Mais: sarcástica, ferina… sua abordagem pode servir mais à sua própria ruína do que à justiça reparadora nos dilemas da vida real. Sem pudores, sem pisar em ovos, ela simplesmente se recusa a exercer qualquer atividade fora de seu escopo de trabalho ou durante seus períodos de folga para a firma na qual trabalha.
Honesta. Até demais. Traduzindo para este mundo, Verônica não seria considerada uma “team player”. Este é um sintoma dos piores dos formatos do mundo corporativo: acusar o funcionário de preguiçoso, pouco engajado, descompromissado ou mesmo mau empregado por se recusar a cumprir uma jornada para a qual não fora contratado.
Isso nos ensina algo de precioso: toda luta com vistas a diminuir a assimetria das relações de poder (e as trabalhistas são um dos melhores exemplos) deve ser coletiva.
Julgamos Verônica como difícil, porque dela é impossível arrancar uma sobrecarga extra de trabalho ou o desrespeito ao descanso sem passar pela compensação. Se ela sozinha busca ser recompensada, o caminho mais fácil para o dono da corda que será arrebentada é remover a “pedra”.
O erro de Verônica a emoldurá-la como a chata e a difícil está em seu exercício de individualidade. São necessárias várias verônicas. Um grupo de verônicas. Para, então, qual enxame, causar ruptura no sistema.
Dito assim, metaforicamente, a partir de um meme, vai me dizer: não faz sentido? E, por que, então, na vida real é tão difícil nos organizarmos?
Coffice da semana: Saboretto Cafés Especiais (DF)
Sudoeste começou a ser um bom destino para nossos cofficers em Brasília. O comércio sempre muito prolífico, porém, não tão qualificado, abriga o Studio Grão Coffee Roasters, mas também uma segunda opção de excelência para quem busca um serviço de barismo profissional, com boa oferta de grãos.
Refiro-me ao Saboretto Cafés Especiais, na CLSW 300B (com uma unidade que não conheço ainda no Ed. Primo Crosara, no Setor Hospitalar Norte). Cafeteria com ótima seleção de cafés torrados ou produzidos localmente. Rola Mokado, Aha, Minelis e outros, como a Típica, que trabalha com a variedade Bourbon Rosa ou Rosado (até então não havia provado).
Menu destaca a produção de confeitaria típica dos cafés moderninhos: bolos caseiros e brownie com muita calda de chocolate, cookies, sanduíches em pães de centeio de fermentação natural, também usados para as toasts. Agrega muito à cena.
Para um coffice de responsa, lembre-se do nosso Manual Coffice de Boas Práticas. Neste caso é um bom lugar para praticá-lo, mas não é tão amplo, portanto, siga nossas recomendações de uso.
Ah, Verônica me fez pensar na hashtag #lazygirljob, vale a pena pesquisar!