Esta edição foi pensada, postergada e escrita após muitos diferentes cafés, mas destaco blend muito doido elaborado pelo Eystein, o Terra Vermelha, um corte de Arábica com Canephora, que dividi com a querida Néli Pereira em brevíssima passagem pela torrefação do OOP Café, em Belo Horizonte.
Dezembro, para quem estuda (e ensina), reserva um misto de fim-começo, desespero-esperança marcados, em particular, por uma transformação total do expediente futuro — ou, ao menos, pela expectativa do que a transição reserva para a curva adiante.
TCC, também conhecido como Tempo de Correria e Conturbação. Um excesso de compromissos se funde a uma rotina que escorre pelas frestas da agenda. Por aqui, queridas e queridos cofficers, os inúmeros TCCs (de verdade, desta vez) estrangularam a rotina de escrita desta newsletter.
Ainda bem que o ano termina e começa outra vez.
Todo fim de ano é um TCC não só para a turma da educação (educandos e educadores). A turma da CLT e do funcionalismo público que não pegou umas férias, deve estar neste momento em contagem regressiva, batendo meta ou adiantando trabalho para justificar o recesso de fim de ano.
Autônomos, empresários e comerciantes não poderão piscar até virar o ano. Talvez nem depois. Balanço pra cá e pra lá.
Mas, todo mundo sabe que o ano termina e começa outra vez.
Por isso continuamos.
O marasmo contemporâneo, que chamamos com frequência de crise, é a consequência inelutável de tal lógica de dominação, levando a uma não menos lógica devastação.
Michel Maffesoli
A devastação à qual Maffesoli se refere está no contexto de um dos seus mais recentes grandes escritos: a ecosofia. Uma teoria para se pensar e repensar as relações ecológicas (entre o nós e o meio-ambiente, entre nós e consigo), sobre a qual não conseguirei explicar muito aqui para não correr o risco de ser leviano.
Mas, o trago, sobretudo, por esta lógica citada. O fim do fim, onde não há esperança e para onde miramos hoje como sociedade. A devastação não é mais apenas ambiental, defende o autor francês (absurdamente apegado ao Brasil e às brasilidades). Mas uma devastação contemporânea da própria mente humana.
E é a esta lógica que sucumbimos ao dezembrar a plenos bolsos e pulmões consumistas. De um consumo material e um autoconsumo mental. É o grande mês de se fazer dinheiro e também o mês dos bicos, da renda extra, dos jobs e dos frilas convenientes para “dar aquela força”.
Redundamos na lógica da devastação mental, pois o preço cobrado vem desta instância. Não preciso entrar nos méritos psíquicos e químicos dos quais já conhecemos a existência ainda leigos que sejamos.
É o “marasmo contemporâneo” que vivemos. Segundo Maffesoli, este seria um nome mais adequado à crise da pós-modernidade (soma-se, inclusive, à crise climática).
Pela primeira vez entendi a correlação entre o estado mental e a natureza circunscrita quando assisti ao último filme de um dos meus diretores favoritos, Andrei Tarkovski. Em O Sacrifício (1986) antecipamos o destino trágico da razão de Alexander (Erland Josephson) ante à aproximação de um holocausto nuclear.
A ecosofia de Maffesoli une essas duas crises, porém, aponta para uma reaproximação (um “ré”, como falamos em uma das mais recentes edições anteriores), para um presenteísmo, com menos agonia pelo futuro e mais vida no presente.
Por isso, talvez, precisemos repetir o mantra piegas de John Lennon, prestes a ocupar as sintonias e playlists aleatórias de farmácias e lojas de departamento na interpretação nacional de Simone.
Afinal, dezembro é preciso ser encarado como um fim travestido de começo, pois só percebemos e nos atentamos que acabou quando já começou novamente, porém, tarde demais. E dezembro nos escapa à espera de um “janeiro doce manga”, cuja missão é carregar o fardo de seu mês antecessor não vivido propriamente.
O ano termina e começa outra vez.
Coffice do dia: OOP Café (MG)
Todo ano passo por Belo Horizonte e um dos destinos certos é o OOP Café. Neste ano, são duas as novidades (e tem uma terceira que ainda não estou autorizado a antecipar).
A primeira é a OOP agora é um Coffice. Entregamos o Selo Coffice, já com a nova plaquinha no novo design para a Dri Cobra, fundadora da marca, e para o Eystein, mestre de torra da rede desde 2022.
Ou seja, cofficers belorizontinas e belorizontinos (ou só de passagem pela capital mineira), podem estacionar seus computadores e marcar suas reuniões por ali, que serão muito bem-vindas e bem-vindos.
A segunda novidade é que não tem OOP só na Savassi, como já resenhado aqui ano passado, e no museu a céu aberto do Inhotim, em Brumadinho. Há uma nova unidade agora no Centro de BH, ali próximo à Praça Sete, no terraço do prédio Dona Julia Nunes Guerra, ao lado do Cine Theatro Brasil Vallourec.
Hesito em chamar de rooftop, mas devo admitir que o espaço combina com o estrangeirismo. É descolado e jovem. Domingo de manhã, fiz um belo brunch na loja aérea bem cheia, com um pão de queijo (da Pão de Queijaria) recheado, uma broa (mais para bolo) de fubá com goiabada e, claro, um coado. A pedida foi o do Derio.
Para quem não sabe, o OOP tem o singelo e nobre hábito de batizar alguns lotes de seus cafés da Linha Produtores com o nome de quem planta. Tem o Derio, mas também o Claudio, o Phelipe, a Família Cardoso…
Cereja do bolo (que envolve o spoiler que não posso falar) foi poder visitar Dri e Eystein na Torrefação OOP. Provei um mundaréu de café, meio às pressas, pois o único momento que consegui passar lá foi a caminho do aeroporto.
E estava na ótima companhia da querida e mestra das alquimias radiculares Néli Pereira, com quem dividi o Terra Vermelha, o louco corte citado lá em cima, que mistura Arábica e Canephora, com um resultado bem instigante de grande potência, com bom teor de doçura e uma sensação acastanhada e amadeirada, a envolver o gole pelo calor não só da bebida, mas das amêndoas de cacau e de seu amargor caramelado.