Esta edição foi escrita acompanhada de um moka extraído do Arara da torrefação da Intelligenza
É hora dos discursos da obviedade. Lembrar (ou vocalizar) aquilo que nunca deixamos de saber: a redundância da completude de uma volta da Terra em torno do sol.
Para ser ainda mais óbvio: “o ano termina e começa outra vez”. É “Hiroshima, Nagasaki” em looping nos alto-falantes dos atacadões e farmácias. Muita cidra e muito chester associados a uma nova matrícula na academia e doses alopáticas de antidepressivos e de suplementos vitamínicos formam o starter pack do Ano-Novo.
Afinal, este é o tempo de chegarmos arrastados para receber a próxima volta ao sol.
Talvez por isso seja, comumente, este ser o principal tempo de férias (se o seu ramo, ou acordo trabalhista, lhe permite gozar de tal privilégio — no meu tempo chamávamos de direito).
Como um bom CEO de MEI, saio de férias, porém, não integralmente. Devo encaixar jobs entre os banhos de mar. Nada muito diferente das férias anteriores (se não der para ir ao litoral a gente estica até a cachoeira mais próxima no meio da semana).
Mar, cachoeira, piscina, parque, enfim, férias é fundamental para a vida.
Férias é a oportunidade de viver a magia da rabanada.
Isso, rabanada. O doce rabanada. Também chamada de torrada francesa pelos americanos e de pão perdido pelos franceses.
É pegar o pão velho e cansado que se tornou seu corpo e sua mente no alto de dezembro — tendo sobrevivido ao Natal em família (o meu foi ótimo, mas reflito aqui o sentimento de muita gente, quiçá da maioria). E dar um banho rejuvenescedor. Por isso, a associação com o mar, a cachoeira, a piscina…
Submeter-se a um novo aquecimento, com um novo tempero (tem gente até que inclui um novo recheio) para, na virada da frigideira e no empanamento final no açúcar com canela, sair novo do outro lado.
Na real, pouquíssimo místico que sou para essas coisas (posso ser bastante para outras), ao virar um ano, acho mais relevante o fato de significar a virada de um mês: salário, dinheiro na conta, vida que segue boleto a boleto. Um ano, um dia, tanto faz. Não solto fogos, não uso roupa assim ou assado, nem jogo na Mega da Virada. Trabalhei muito anos durante o Réveillon (era de folgar o Natal), pois não me importava.
Normalmente passo o dia 31 de dezembro assistindo filme ou dormindo. A ceia de Ano-Novo, pra mim, sempre teve gosto de pernil suíno e arroz com pequi, porque a gente costumava passar na minha vó, que aniversaria dia 1° de janeiro, e sempre servia um arroz com pequi no meio do banquete que, basicamente, repetia o do Natal.
Mas, neste ano, comecei a pensar (talvez não misticamente) na rabanada. E, sim, outorgar minha simpatia a quem é de simpatia. Ora, desde criança e durante a juventude, virei o 31 do 12 em oração coletiva no culto de vigília. Não como uma simpatia, muito embora, se possa considerar. Flores a Iemanjá, pulos nas ondas, vestir branco pra isso ou verde praquilo, promessas, etc.. O simbolismo é importante.
No final, tudo redunda no incontrolável desejo pelo renovo, pelo recomeço, por um ano fiscal, letivo, afetivo e laboral mais generoso conosco.
Que seja assim seu 2024: uma rabanada!
PS: esta foi a última newsletter de 2023. Agora entro de férias. Assinantes do plano pago ainda receberão o conteúdo especial do mês em janeiro. Para os demais assinantes, voltamos com nossa newsletter das segundas daqui três semanas.
Um próspero Ano-Novo, guerreirada!
Retrospectiva Coffice
Caminhamos para o segundo ano da newsletter Coffice — e primeiro ano do Selo Coffice de Qualidade.
Resolvi fazer outra obviedade de fim de ano: a retrospectiva.
Por si, é um belo roteiro para vocês enxontrarem por aí um bom café para um dia de trabalho, encontrou ou lazer mesmo.
Foram 40 cafeterias, de 4 unidades da federação (DF, BH, SP e GO), resenhadas ao longo deste ano. Visitadas foram bem mais — não falo das péssimas experiências ou de locais que, simplesmente, não vale nem passar perto.
Neste ano, entregamos o Selo Coffice - Atestato de Qualidade de Cafeterias para algumas casas que mantém um perfil receptivo a cofficers, mas com um investimento em serviço de barismo e cafés especiais, claro.
No Distrito Federal, exploramos muito bem a Asa Norte, além de destacar trabalhos de cafeterias no Gama (o, infelizmente, finado Eden), em Taguatinga (Vértice Café), no Guará (Crioula Café, La Chicra e Acervo), na Asa Sul (os novos Casa Almería, que deixou de ser um coffice, o Constantina, o Angelita e o Meet), em Águas Claras (no novo endereço do 002 Café) e em Sobradinho (Coe e Acorde 27).
Em Goiânia, visitamos 14 cafeterias, das quais destaco o trabalho do Subverso Coffee, do Estação 14 e do Luiz Café Conceito. Por São Paulo, reconhecemos o trabalho de excelência do Coffee Lab (Vila Madalena), do Studios Coffee (Pinheiros) e do Café Zinn (na Haddock Lobo).
Passamos também por Belo Horizonte onde conhecemos dez cafeterias, a maior parte concentrada na Savassi. Os destaques de Beagá ficam com o Elisa Café e Torrefação; o Noete Café Clube, o Yes, Nós Temos Café (agora também no MM Gerdau) e o Oop.
Ufa, foram muitas xícaras, taças, copos, canecas e até cumbucas de café. Gelado, quente ou nitrogenado; com ou sem leite; na prensa ou na aeropress; na v60 tradicional, no Origami ou no Koar; no espresso ou no filtro de pano.