Esta edição foi escrita acompanhada por um café da variedade Arara, cultivado e torrado pela Fazenda Santa Edwirges.
De um lado, há a máquina administrativa. Burocrática e contraproducente. De outro os coaches falastrões (quando vamos expurgar esse mal?). E, mais, empresários com aquele discurso da produtividade que rechaçam a flexibilidade do empregado por apegos injustificados ou perniciosos.
O que têm em comum?
Todos querem andar de marcha à ré no que tange a evolução dos métodos de se produzir, o trabalho remoto.
Não me refiro àquele momento limítrofe, ainda em contexto de pandemia, no qual muitos empresários anelavam pelo retorno às atividades presenciais, por questões comerciais. Compreensível.
Refiro-me às atividades plenamente elegíveis para o dito teletrabalho (nome caduco e horroroso até hoje não atualizado pelas instituições).
Quatro anos depois da pandemia, estamos diante do fim de boa parte da já diminuta escala de trabalho remoto. São apenas 16% de servidores em home office no serviço público brasileiro.
Mas, a expectativa não é que se aumente esse modelo. Pelo contrário, vai diminuir. E, os que ficarem, precisarão (segundo uma das medidas propostas pelo Executivo) providenciar uma linha fixa de telefone.
Alô-ô?
Engate a ré e vamos mais pra trás.
Dia desses viralizou na internet um desses empresários adeptos do “produtivismo a todo custo”. Vociferaram contra o trabalho remoto: “aqui não tem essa moleza de home office”. Como se fosse uma moleza. É aquela ideia de que se ele não tá vigiando, a coisa não acontece. É a falta de percepção de que a vida não pode girar em torno do trabalho, mas integrado ao dia a dia.
O cabra falou tanto, se vangloriando de fazer seus funcionários trabalharem pra lá de 12, 13 horas por dia, sob seus chicotes motivacionais, que o Ministério Público do Trabalho foi lá tirar satisfação.
Empresários-pavões, fomentando um produtivismo de fachada. Por trás desse discurso pouco informado acerca das novas possibilidades abertas pelo trabalho remoto, há uma estrutura de liderança insegura, em muitos casos, necessitada de recorrer ao assédio moral para se validar e engajar a equipe. Pelo medo, não pelo exemplo.
Um relatório da empresa de compliance Aliant revelou esse fenômeno. O fator presencial estimulava, em muitos casos, uma relação de trabalho baseada na vulnerabilidade do empregado.
Ah, mas não é todo trabalho que rende remotamente. Obviamente. A questão se impõe é o quanto estamos dispostos a reconhecer aquelas atividades sedentárias em frente ao computador como indispensáveis de se realizar presencialmente para o bom funcionamento das engrenagens.
Adianto a resposta: muitas funcionaram melhor.
E a indústria do sabonete líquido e do papel higiênico corporativos? Que farão com os milionários contratos anuais com grandes empresas e governos? E o sistema imobiliário? O que farão com a vacância decorrente do trabalho remoto?
A resposta é simples: se adaptam, se encolhem, entram para o jogo do futuro, das novas formas de se criar e de se produzir conhecimento, matéria-prima ou serviços. É hora de mudar mesmo. Paciência.
De ré encontraremos a estrada que conhecemos. Uma marcha importante, para ser usada oportunamente. Mas, para andar pra frente, tem que engatar a 1ª e arriscar passar por curvas desconhecidas e trechos esburacados.
O trabalho remoto está nesta segunda parte da estrada.
Coffice do dia: The Coffeetown & Co. (DF)
Completa por agora um ano apenas de operação o The Coffeetown & Co., no até pouco tempo inóspito Setor Sudoeste, de Brasília, ao menos para os cafés especiais.
Aberta na quadra CLSW 102, é uma cafeteria misturada a um restaurante e a uma confeitaria. Não seria um dos lugares assim mais recomendados para a prática do Coffice, justamente por ter um serviço muito diverso. Se for pousar por lá para abrir o PC, atente-se bem ao fluxo de clientes. Só seguir nosso Manual Coffice de Boas Práticas em Cafeterias.
O bom é saber que a cultura do café está respeitada ali minimamente. De métodos mais puristas, você tem espresso, V60, Aeropress e Prensa Francesa. A casa apresenta um extenso menu de variações e receitas com café, do cappuccino clássico às biscoitagens gastronômicas melecadas com Nutella.
A boa notícia, é que também serve uma boa diversidade de chás, lacuna que merece ser melhor preenchida nas cafeterias do DF.
À parte, é uma casa que se tornou conhecida também pelo menu de tortas e pelas muitas opções do seu brunch.