Esta edição foi escrita acompanhada de um espresso curtíssimo cortesia do querido barista, cozinheiro e patrulheiro cerratense Paulinho Lima, no Los Baristas, um Catuaí Vermelho que estava na máquina.
Quando o vocabulário corporativo criou os novos eufemismos para as relações trabalhistas, como refletimos na edição anterior, uma das linhas mais tênues fora justamente o uso do termo “colaborador” para a pessoa contratada como empregada na firma.
Colaboração, tenho eu, como um ato ou efeito muito mais próximo ao do universo do favor do que do trabalho. Colaborar não significar fazer, produzir, muito menos acumular um monte de atividade (para além do escopo do trabalho) central na operação dos donos do meio de produção.
Há um aspecto coadjuvante na completude do projeto quando se invoca a colaboração. Entendo o esforço coletivo da natureza colaborativa de todo trabalho. Colaboração como princípio é diferente de colaboração como característica de função. O que indica que a colaboração seria uma forma atenuada de se exigir o compromisso formal, ao tempo que dispensa-se — com a mesma atenuação — determinadas obrigações e responsabilidades do empregador.
Algo similar ocorre com a “parceria”. Sendo a parceria, obviamente, o elo mais frouxo possível das relações trabalhistas. O termo tem sido aplicado de modo formal e sistemático em acordos entre empresas, sobretudo, marcas.
Agora, parceria no jargão dos microempreendedores ou CEOs de MEI do meu coração se tornou o retorno à era do escambo. E da pior forma. Fazer um trampo na parceria virou sinônimo de “faz de graça pra mim pela visibilidade/portfólio”.
Uma visibilidade capaz de pagar uma conta é uma senhora visibilidade, viu? Então, atenção especial às parcerias-tranqueira. São daquelas em que você entra com o sangue e o outro com a faca. Saia fora!
E o favor? Ah, o favor é aquela atividade que só os craques da exploração da força do trabalho conseguem extrair sem você nem perceber.
Favor, um amigo já dizia, é você me ajudar a carregar esta caixa daqui para ali; chutar a bola de volta que alguém zuniu pra fora da quadra; oferecer a mão a alguém com dificuldade de descer do ônibus. Favor não é subir a montanha com a pedra sobre as costas sozinho.
Quando o favor vira desculpa para acrescentar demandas sutis à carga de produção combinada previamente, o nome é outro. Quando o favor ocupa seu tempo de função de modo não esporádico, sem compensação financeira, o nome é outro. Quando o favor se torna rotina, o nome é outro.
Coffice da semana: LaBarr (DF)
Poucas coisas se dão tão bem com café como o chocolate. Precisa, claro, ser um bom café… e um bom chocolate. Após operar como fábrica em Águas Claras (DF) e manter um tímido café como ponto de revenda de seus produtos na 314 Norte, a chocolateria LaBarr Chocolate de Origem unifica toda sua operação em um novo espaço na 710/711 Norte, em Brasília.
Um grande acerto, principalmente para asanortistas, que agora têm um dos melhores chocolates brasileiros na vizinhança. O bom deste novo arranjo também foi a ampliação e maior profissionalização do serviço de cafeteria. Trabalha apenas com torrefações locais — o que é muito congruente com a própria filosofia “do grão à barra” aplicada para sua produção própria.
Anero, Ahá, Pilotis, Studio Grão, Mokado… uma boa lista de rótulos para acompanhar as belas criações desta que é a mais sólida, premiada e consistente chocolateria artesanal de Brasília.
Agora, por ainda diminuto que seja, o novo espaço permite praticar um coffice. Com tomadas à mão, há apenas duas mesinhas internas para se ficar ali trabalhando — desde que siga o nosso Manual Coffice de Boas Práticas.
Você pode usufruir da lojinha, com as barras e bombons produzidos ali mesmo, ou também comer alguma coisa (para além dos doces), acompanhado de bons cafés.