Esta edição foi escrita acompanhada de um catuaí amarelo torrado por Yes, Nós Temos Café, extraído na moka italiana
Dezembrou! Digo, nesta semana dezembrará. Boa notícia, certo? Talvez.
Muito se fala de agosto, mas dezembro carrega uma característica tão — ou mais — agridoce na rotina do trabalho. Trabalho demais para uns; trabalho de menos para outros; além da ausência de trabalho-renda em meio ao protocolo social da gastança.
O luxo das férias ou de prolongados recessos do fim de ano escondem a estafa laboral e emocional que este mês carrega. Não é um papo místico (mas que o seja para quem o é). Mas a abordagem aqui vai mais para o lado científico — da saúde ou de fenomenologia.
Há uma desordem já diagnosticada para dezembro: o transtorno afetivo sazonal, que também se confunde com a depressão sazonal. Costumava ser um diagnóstico característico dessa temporada apenas para o Hemisfério Norte, com a virada do outono para o inverno — e a consequente diminuição da luz solar. Inclusive um dos paliativos para este estado é a fototerapia.
Contudo, no Hemisfério Sul, a combinação fim de ano com calor e dias ensolarados, ainda que não manifeste do mesmo modo tal transtorno (ninguém vai precisar de fototerapia por aqui, provavelmente), abre espaço para o que a ciência apelida de “depressão natalina” ou “melancolia de Natal”.
Trabalhar em dezembro evoca a ambiguidade do excesso de trabalho e da ansiedade das entregas com a expectativa da bonança e a ilusão da recompensa pelo esforço culminado de um ano inteiro — férias, 13º, bônus, pagamentos de contratos que não podem ficar para o ano seguinte, gastos compulsórios para bater meta ou justificar orçamento do planejamento porvir, etc., etc..
Tanto para a vida secular como para a rotina do trabalho, necessidade básica do ser contemporâneo, compreender o mês de dezembro é fundamental. Você já deve ter ouvido falar que não se entrega currículo em dezembro. Ninguém contrata. Pra valer. Só serviços sazonais mesmo — o varejo que o diga, uma chuva de temporários.
As expectativas de um futuro muitas vezes intangível somado à nostalgia dos tempos de outrora das festas da estação conferem a dezembro um peso enorme para quem não se preparou para ele.
Para nós, professores, é a loucura de correção de prova, de gestão do próximo semestre, em meio a um monte de reunião e mais um monte de coisa; para alunos funciona da mesma forma, com a agonia da superação e a apreensão sobre seu desempenho final.
Ou seja, dezembro costuma ser o mês do ultimato, da culminação de tudo. Agitado, definitivo. O que confere a janeiro a (falsa) sensação de recomeço, tranquilo, paulatino. Dezembro é um estágio e precisa ser encarado como tal. É superação, expectativa, mas também esperança.
Não pensaria em metáfora gastronômica (recurso ao qual recorremo com frequência por aqui) melhor do que a de Gil:
Porque todo tamarindo tem /
O seu agosto azedo, cedo, antes que o janeiro /
Doce manga venha ser também
Comida de Pensar 2024
Acabei de soltar o calendário de cursos de verão 2024 do Comida de Pensar, hub e plataforma na qual esta newsletter se insere.
Começaremos em janeiro com o nosso primeiro, superinédito, curso presencial focado na compreensão filosófica, comunicacional, histórica, sociológica e gustativa do café.
Pensar Café será uma incursão de 4 horas, presencial, em Brasília, no dia 21 de janeiro de 2024. Vamos nos aprofundar nas características desta bebida que inspira nossa newsletter e o nosso dia, com um conteúdo superoriginal, com direito a degustação de vários métodos, acompanhado de comidinhas. Inscrições abrem em breve: envie uma mensagem ou e-mail para guilhermelobao@gmail.com para reservar seu lugar, pois a demanda está grande.
Comida de Pensar 2024 nosso curso-carro-chefe on-line e ao vivo, que já impactou centenas de pessoas, com uma abordagem originalíssima, baseada na tese e nas pesquisas do professor Dr. Guilherme Lobão, extraídas de sua experiência na chamada Universidade do Slow Food, a Università degli Studi di Scienze Gastronomiche di Pollenzo, na Itália. Será o quinto ano do curso, durante duas semanas, começando 1º de fevereiro de 2024, com encontros síncronos em duas turmas: às 14h e às 19h. Inscrições abertas aqui.
Oficina de Escrita Gastronômica, que fizemos ao vivo, agora será um curso mais flexível. Em 8 aulas gravadas, vamos cobrir conteúdos desde a crítica e a crônica gastronômica até o copywriting para produtos e marcas de enogastronomia. Teremos incluso 1 encontro ao vivo para sanar dúvidas e para orientação prática de produção. Este curso será disponibilizado somente em fevereiro.
Acesse www.comidadepensar.com.br e clique no curso que deseja fazer e se inscreva.
Barismo bairrista


Peço licença para um pouco de bairrismo e puxar o saco de profissionais queridíssimos aqui de Brasília, justificando porque a capital federal é um dos mais proeminentes mercados do café especial no país.
O Marcondes Trindade, do Acorde 27, e a Ju Morgado, do Studio Grão Coffee Roasters, levaram semana passada o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, no Campeonado Brasileiro de Barista, na Semana Internacional do Café (SIC 2023).
E Marcelo Ribeiro, mestre de torra no Ernesto Cafés Especiais, depois de ser campeão do Campeonato Brasileiro de Aeropress 2023, vai para Melbourne, Austrália, representar o país no mundial World AeroPress Championship (WAC).
Coffice da semana: Dona Zuca (DF)
Muita cafeteria bacana para a prática do coffice não necessariamente é, em primeiro lugar uma cafeteria. Muitas confeitarias e lanchonetes podem se mostrar muito apropriadas para esta prática, observando, claro, nosso manual de boas práticas para clientes e estabelecimentos.
Dona Zuca, que funciona em cima da Baco da Asa Norte, ali virada para a pracinha da 309 Norte, é um desses lugares. O nome, diferentemente do que pensava (relativo a abóbora, faltando um “c”), é uma homenagem do casal de empresários Lucas Rezende e Ludmilla Oliveira, a Ludy, à sua avó, Zunalva Gomes, ou Vó Zuca.
A casa é razoavelmente nova. Começou como uma boleria/confeitaria, especialidade da casa, numa quitinente, trabalhando com encomendas. O espaço físico com serviço de mesa veio justamente na pandemia. Superado o abre-e-fecha, permaneceram.
Agora pode pedir um cafezinho à mesa. Mas a pegada é mais voltada para frappuccinos, milkshakes e outras bebidas geladas à base (ou não) de café. No menu, incorporou comidinhas tradicionais de cafeterias, com ênfase a sanduíches (misto quente, um ótimo sanduíche de carne de panela, cuscuz, waffles, ovos mexidos. O forte continua sendo os docinhos e bolos de Ludy.