Esta edição foi escrita acompanhada de um Quadra 206, um café 100% Robusta Fino Amazônico fermentado de Novo Horizonte do Oeste (RO), torrado e embalado por Café Pilotis.
Se você está no mercado de trabalho, é porque alguma coisa você está vendendo; se você está fora dele, é porque você também está vendendo, porém, sem alguém para comprar. Afinal, todos nós vendemos nosso tempo e esforço. Por mais dinheiro ou por menos, por mais tempo ou por menos, do comerciante varejista ao servidor público, que vende as habilidades, tempo (e até exclusividade em determinados casos) para um cliente específico (o governo).
Vender é uma “arte”. Há quem o faça com tanta habilidade a se tornar conhecido por conseguir convencer esquimó de comprar neve, como dizem. Outros vivem (e viverão) de uma única venda realizada na vida (um concurso, um contrato daqueles, uns royalties).
A questão contemporânea que se impõe é que “vender” — em todos os sentidos como colocamos — não se limita ao argumento liberal da máxima laissez faire/laissez passer; nem mesmo à simples relação de oferta e procura do sistema capitalista. Desde os 30 gloriosos anos do design (compreendido entre 1950 e 1980), a motivação de uma compra se deve mais aos aspectos estéticos do que funcionais.
Este novo valor econômico propôs uma superação ao fordismo, mas entrou num descontrole consumista e colecionista na instância dos produtos e numa órbita marqueteira-expositiva no âmbito dos serviços.
Até profissionais liberais antes low-profile, como médicos ou encanadores, aderiram a uma lógica da performance concebida pela era da estetização do mundo, para citar o livro de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. Nesta publicação, somos apresentados à noção do capitalismo artista.
Tudo pela experiência estética. Entretanto, agora, não mais sob a mediação, ou a concepção do produto, ou a realização artística, senão a meta empresarial.
Colegas de universidade pública hoje em dia divulgam cards bonitinhos feitos no Canva de disciplinas que vão ministrar; gastroenterologistas vão para o TikTok gerar conteúdo para captar pacientes e até servidor público já vemos fazendo dancinha para agregar valor ao seu trabalho.
“um sistema conceptor, produtor e distribuidor de prazeres, de sensações, de encantamento… uma das funções tradicionais da arte é assumida pelo universo empresarial”
Lipovetsky e Serroy, 2015
A ligação do econômico aos imaginários da produção de sentido, gozo, sedução e mesmo de um universo lúdico fazem do capitalismo artista o mecanismo produtor de valoração da venda. Mas, aqui, a finalidade não se resume ao lucro necessariamente, se torna parte da forma como consumimos e como vendemos nosso capital intelectual, estoque ou habilidade nesta geração.
Quanto custa seu tempo e seu esforço? Como precificar isso? As formas são muitas e dependem de inúmeras variáveis, porém, o denominador comum é que o capitalismo artista media sempre esta negociação.
Coffice da semana: Catê (DF)
Catê Padaria Incrementa a cena gastronômica da Asa Norte, em Brasília (DF), desde novembro de 2023. Embora sua ênfase esteja na panificação, a casa propõe um formato de cafeteria, com um interesse em cafés especiais e boa extração — tanto de espresso como de coado.
Podemos dizer que ganhamos mais um cantinho para o café, que até pode servir para um coffice (desde que você siga nosso Manual de Boas Práticas em Cafeterias). Lembre-se de aproveitar os momentos de ociosidade, no meio da manhã e no meio da tarde, sobretudo em dias de semana.
Bem, mas sobre o Catê. Uma boa panificação, com um ótimo repertório de quitutes salgados — o que considero importantíssimo, visto que muitos cafés têm um sweet tooth muito evidente.
No cardápio, não deixe de provar os pães da casa, mas encontre espaço para os wienerbrød, mais conhecidos como danish, a massa folhada recheada dinamarquesa.
Catê fica lá na 306 Norte, no primeiro bloco.