Esta edição foi escrita acompanhada de um espresso Doce Caparaó torrado pelo Five Roasters no Rio de Janeiro, a partir de grãos catuaí vermelho produzidos por Tarcisio e Jhone Lacerda no Sítio Santa Rita, no Espírito Santo.

Um giro no feed da rede social, antes do vídeo no YouTube e vem alguém vendendo curso on-line. Para o bem e para o mal. Eu mesmo o faço. E, se brincar, você já deve ter visto um patrocinado meu interrompendo sua programação dos stories ou dos reels. Afinal, é o meio que sobra de estratégia para autônomos e CEOs de MEI do nomadismo digital manter seu trampo em pé. Mas, sim, o que vai pintar de gente vendendo curso de vender curso (e variações sobre o tema) não tá no gibi.
A conversa de hoje não será sobre esses estelionatários do conhecimento, os coaches que formam coaches para ganhar dinheiro ensinando mais gente a ser coach - taí um bom assunto para abordarmos no futuro. Mas quero pensar em aprendizado de verdade. Logo pensei em Gonzaguinha e a capa do disco Caminhos do Coração, em que ele toma o cafezinho numa xicrona.
Precisamos voltar às aulas. Não me refiro somente a este momento em que estudantes matriculados no ensino formal começam um novo semestre - deixo um alô aqui a meus calouros que encontrarei em sala de aula nesta semana. Falo, contudo, de uma necessidade intrínseca ao ser humano de cuidar do desenvolvimento intelectual.
O grande problema para o qual essa tendência marqueteira que os cursos on-line no geral apontam é o de uma necessidade de se aprender para ganhar algo materializável e mensurável. É um tal de “em tanto tempo aplicando o método você…” estará empregado, ou terá o primeiro contrato, ou vai ganhar no mínimo tantos reais…
Pois o conhecimento não seria um ganho? Uma finalidade? Supostamente o ensino formal obedece a esta premissa. Mas não pelo conhecimento, vale lembrar. A estrutura (do ensino fundamental ao superior e aos concursos da vida) está posta de modo a você investir em conhecimento, mas com este objetivo. Queremos o diploma, o emprego, o aumento, a recolocação profissional. Fazemos por pré-requisito e não pela beleza do conhecimento.
A escola me fez desenvolver certo trauma para o estudo. Descobri tardiamente meu apreço pelo conhecimento, pois enquanto jovem o lia como sinônimo de estudo disciplinar. Então veio a reflexão: tinha gosto de estudar o que me interessava, mas o que me interessava não estava pari passu com o estudo requerido pelo sistema educacional.
Essa cultura formalista - à qual vamos descobrindo como lidar e também a aceitar e nela se virar - é em muito a responsável por extrair a beleza do aprendizado. Obviamente, não questiono a relevância do papel da escola de dos institutos de educação, pois ainda estão neles a grande potência de abertura para instâncias do aprendizado.
Contudo, o aprendiz não se eterniza na escola, senão a ultrapassa. Como deve ser. Ler um livro, assistir a um filme, observar a vida a olho nu sem a mediação do celular, passar uma ropa, cuidar de um pet, educar uma criança, escutar os anciãos, aprender uma nova língua, conhecer uma cultura diferente da sua (e não precisa viajar pro exterior, nem mesmo viajar), fazer um curso (de batuque ou de filosofia; de bricolagem ou de música), enfim, “viver e não ter vergonha de ser feliz”, ou de ser triste, melancólico, inadequado...
O sistema educacional resolve as questões basilares. Ainda nas palavras do poeta Gonzaguinha: “Somos nós que fazemos a vida como der, ou puder, ou quiser. Sem amarras, sem dissabores, por nós e pelo coletivo que nos cerca somemos aprendizados. A famosa escola da vida e, ao lado dela, a cultura que nos cerca e o exercício da alteridade serão sempre os melhores programas para formação de eternos aprendizes.
Coffice da semana: Parentela Casa de Pães (DF)
A grande vantagem de se praticar um coffice no Parentela Casa de Pães está em sua localização muito central, na Rua das Farmácias, Brasília, e o fato de abrir bem cedinho, 6h30. Early birds, como eu, precisam muito desta alternativa para trabalhar remotamente pela rua.
O Parentela não se destaca pelo serviço de cafeteria. Trabalha com grãos tradicionais (não os especiais, fiquem avisados), tem um serviço de padaria modesto, mas a estrutura completa para se tomar um café da manhã razoável para se começar (ou terminar) o dia: wi-fi, água da casa, tomadas estratégicas e banheiro.
Nota pessoal: esta era também a cafeteria onde batia ponto com um dos meus melhores amigos, o Berna, sobre quem falei, num sincronismo transcendental, na edição passada, horas antes de saber de sua precoce partida. É, portanto, uma cafeteria de onde guardo bons momentos. Era a preferida do Berna, por motivos de “abrir cedo e estar em sua jurisdição”.
Vale dizer que a casa representa a segunda geração da família à frente do clássico Rei do Pão de Queijo, naquela mesma rua (e com uma unidade na Asa Norte). Para quem não conhece, o Rei do Pão de Queijo é daquelas lanchonetes das antigas, do café da manhã apressado antes do expediente, com charme de boteco (agora mais bonitinha, após reforma). Ali você encontra disco de carne goiano dos melhores, coxinha bem apimentadinha, panqueca de carne e de frango, peta e muitos bolos caseirões.
Parentela é a juventude tomando o rumo da gourmetização, metendo uma estrutura enorme para servir croissants e éclairs. O menu consiste em clássicos de bistrô francês, com pratos nacionais. De noite tem caldo, pizza, até happy hour e janta mesmo - no sábado tem feijoada com música ao vivo. E croissants e éclairs.
Mas a comida do Rei é incomparavelmente melhor. O Parentela entrega mais conforto, um ótimo brioche, um café melhorzinho e o tal do storytelling para ter mais apelo à clientela.
Muito obrigada por esse excelente artigo de retorno às aulas, vou repassar aos meus alunos!
E que descoberta para mim a Parentela Casa de Pães!!! Algumas vezes que fui a Brasília não tinha como tomar café na rua antes de alguma reunião matutina. Agora já tenho referência! Obrigada!