Esta edição foi escrita acompanhado de um cappuccino com leite vegetal Nude
Escola, concurso, processo seletivo, avaliação de desempenho, até para um date estamos suscetíveis à cultura do escrutínio moderador de força maior que haverá de determinar nosso destino. São muitas as provas. Há prova “de marcar x” ou de “escrever”. Cada qual aterroriza de modo particular quem está sendo provado. Há provas cabais, evidências, a inocentar ou condenar.
Há a prova de fogo, este jargão multifuncional a medir as agruras da vida. E há a prova de vida, que minha Dinda precisa fazer todo ano. Aliás, um novo ano para ela exatamente hoje, seu aniversário de 104 anos de idade, vividos até então em plena lucidez. Sua maior prova, aliás, é a própria vida, os dias e os anos longos, a canseira e o enfado.
Para nós do ramo, há provas de comida - e de café, claro. Esses, para o leigo, seriam mais prazeres do que certamente desafios a serem vencidos. Um engano, naturalmente. Há prazer naquilo que se faz, mas permanece desafiador testar um café, um vinho, um prato - sobre isso, especificamente, falo mais na ocasião do lançamento do meu novo blog, sobre o qual assinantes de Coffice leem em primeira mão logo abaixo.
“As provas, a disciplina, os castigos, as recompensas, a promessa de emprego futuro são considerados os motores da motivação”, resume Ira Shor no belíssimo livro-conversa com Paulo Freire, Medo e Ousadia - O Cotidiano do Professor, Paz e Terra, 1986). Este foi meu primeiro contato com a pedagogia pra lá de 15 anos atrás.
Prova, a de escola, particularmente nunca me causou pavor. Muito menos como a meus alunos. Pressão cai, dedo treme, adesivo de nicotina, mastigando cabelo… Eis o grande problema das provas, das entrevistas de emprego, dos concursos, das seleções, das negociações: dependemos disso para viver conforme as regras do jogo da vida.
Não só nos adequamos a isso, como queremos teste para tudo. Testar QI, a compatibilidade de gênios e de signos, até testamos qual personagem de sitcom melhor nos representa. Testamos a inclinação política e os hábitos alimentares. Queremos saber quantos anos viveremos e como será nossa fisionomia, via IA, daqui uns 30 anos.
Mas nem tudo precisa ser um teste. Às vezes é melhor amassar os gabaritos e lançá-los fora. Tenho me dedicado a fazer esse execício em nome da disciplina e do foco. Eliminemos esse espírito de concorrência permanente, como se fôssemos colocados à prova em cada circunstância - sim, provavelmente estamos. Só que para a prova da opinião alheia acerca de si você não se inscreveu. Não tem como tirar zero.
Volto ao Ira Shor e ao Paulo Freire. O contexto sobre o qual discorrem ali acerca das provas é o da elaboração da educação libertadora. O mais importante é que as lições ali apresentadas são mesmo para a vida, alimentar as melhores utopias a partir de exercícios coletivos de imaginação para “praticar novas realidades sociais”, diria mestre Freire.
Sim, na realidade capitalista estamos distantes desse modo livre de provas e amontoados de teste para caber-nos na sociedade. O que quero compartilhar com vocês para esta nossa nova segunda-feira - dia que aprendi a amar por seu devir constituído de recomeços - é que bastam os testes e as provas inevitáveis das seleções, das passagens de séries e da adequação ao mercado de trabalho. Não inventemos novos gatilhos de pressão para os já extenuantes labores da vida. Recomecemos!
Garfo do Crítico
Estreia nesta sexta (3/2) meu novo blog dedicado à crítica gastronômica, Garfo do Crítico. Por enquanto, contempla apenas o mercado de restauração do Distrito Federal. A expectativa é crescer, conseguir ser sustentável e então expandir os horizontes. Há muito desejava voltar a exercitar esse olhar mais minucioso sobre a comida, como o fiz desde os tempos de Jornal de Brasília (2010-2012), Revista Chef (2011-2012), Veja Brasília (2013-2015) e Metrópoles (2017-2019). No meio tempo mantive o blog independente The Whole Beast.
Atualmente comento sobre comida na CBN, mas ali não é um espaço de crítica. Em formato de bate-papo com os âncoras Brunno Melo e Mariana Machado (antes Carolina Martins), trago notícias e serviços sobre o mercado gastronômico brasiliense, além de algumas pitadas de contexto e deslocamentos históricos do alimento e modos de preparo.
A volta à crítica se dá pelo desejo de preencher a lacuna que há neste mercado e, porque, genuinamente, acredito na importância deste papel para a sociedade. Para tanto, não vou a restaurantes a convite (a não ser por questões estritamente sociais ou acadêmicas), pago minhas contas e escreverei minhas impressões neste blog, que funcionará no meu site: www.comidadepensar.com.br.
Garfo do Crítico é um dos braços de atuação, portanto, do Comida de Pensar, um hub de formação, produção jornalística, curadoria gastronômica e artística e de pesquisa. Aliás, as inscrições para a turma de 2023 do meu curso online Comida de Pensar - Curso de Ciências Gastronômicas estão abertas! Só clicar no site. Ah, assinantes do plano pago têm desconto!
Coffice do Dia: Pató (DF)
Empreendimento muito jovem, aberto durante a pandemia na 407 Norte, a Pató atrai mais pela vistosa confeitaria elaborada pela proprietária e chef pâtissier Duda Patriota. Mas há uma boa atenção aos cafés, desde o maquinário do espresso, à expertise da equipe de baristas, embora não trabalhe com diversidade de métodos. Restringe-se ao espresso, ao coado e ao cold brew.
É, no entanto, muito difícil tirar os olhos dos cookies com praliné de amêndoas ou do bolo de laranja com gengibre e pistache, das delicadas financiers de fubá de milho ou da famosa choux recheada com creme de baunilha. Há ainda uma incrível cheesecake basca que não repousa mais no balcão - agora só por encomenda.
Em nova visita, contudo, consegui me desviar dos doces. E pedi um novo achado da seção de padaria da casa: scones (isso, daqueles ingleses) recheados com queijo Minas. São uma ótima companhia para um café coado. As massas folhadas recheadas com tomate ou espinafre com ricota são boas também.
O local é bem apropriado para se trabalhar. Sobretudo na mesinha próxima ao balcão. abundância de tomadas, wi-fi estável e água da casa. Mais recomendado para trabalho e estudo individuais ou em dupla, devido à capacidade do diminuto e charmoso salão.
Um serviço adicional do Patoh: as meninas me vigiam e me cobram de terminar um texto quando estou por lá. Anti procrastinação !