Café, design e experiência estética
O que uma loja de cafés e a Apple Store têm em comum?
Bom dia, guerreirada. Estamos de volta.
Antes de entrar no assunto do dia:
Uma nova fase da newsletter Coffice começa hoje.
O motivo? Queremos dar mais atenção e cuidar melhor da nossa comunidade aqui reunida na plataforma de Substack.
Continuaremos com a edição da newsletter gratuita às segundas, com algumas notas ao longo da semana que abastecerão vocês de informações sobre cafés, restaurantes, vinhos, cultura e, claro, reflexões sobre o trabalho remoto.
Para as guerreiras e os guerreiros que apoiam este trabalho financeiramente teremos ainda conteúdos (em vídeo e em áudio) exclusivos, a começar ainda esta semana. Aguardem.
Comecemos com a pergunta do subtítulo:
O que uma loja de cafés e a Apple Store têm em comum?
Essa relação foi inevitável quando da visita ao Muy Café, recém-aberto na quadra 307 Sul de Brasília, primeira loja desta já famosa torrefação de Goiânia fora da cidade natal.
Décor minimalista, duas cores principais (branco e azul), muitos detalhes em vidro transparente. O resto do ambiente é tomado pelos tons industriais (preto e metálico) dos equipamentos e pelos grãos amarronzados dos cafés expostos sobre longo balcão.
Cada variedade de café, nomeado após o primeiro nome do produtor, tem uma amostra coberta por uma cúpula de acrílico. O cliente pode, à vontade, retirar e sentir os aromas.
Tudo é experiência nos “mercados estéticos”. A loja da Apple ou a do Muy Café são representantes deste fenômeno do capitalismo artista, teorizado por Gilles Lipovetsky e Jean Serroy em A Estetização do Mundo (Companhia das Letras, 2010).
Eles refletem sobre as lógicas econômicas pós-fordistas, subretudo no pós-guerra quando da dos 30 Gloriosos Anos do Design, compreendido ali entre os anos 1950 e 1980.
A arte, neste período, não só se inspira dos elementos mercantis como fazia a pop art, mas também permite o caminho inverso: a experiência da compra está embalada numa experiência estética, na qual os produtos desses mercados são capazes de personalizar as experiências mais indivdualmente em escala industrial.
Por outro lado, dizem Lipovetsky e Serroy, as estratégias estéticas passam a ser decisivas para construir a finalidade mercantil do negócio.
Serve pra tudo: moda, mobilidade, ativismo, tecnologia e, claro, comida. Neste caso, o café.
A equipe da Muy vem com uma proposta estética muito curiosa para o mercado de Brasília — possivelmente para outras praças a depender do êxito futuro desta iniciativa.
Afinal, Muy não é uma cafeteria. Sua presença na rua comercial até sugere uma pausa pro café (que é possível fazer em degustações guiadas pela talentosa equipe de baristas). Mas você não pode chegar cantando “desce um espresso”.
Os planos consistem em abrigar um novo ponto de torrefação ali (por enquanto, a torra opera somente em Goiânia).
E a loja serve a um propósito semelhante ao da Apple Store. Você pode comprar online, e até por outros e-commerces, mas ela mantém uma loja por uma finalidade estética. E quando falamos aqui de estética, não reduzimos à aparência, mas expandimos para a experiência do design.
Não é para você, necessariamente, comprar, mas conhecer, provar e se deixar seduzir.
Boa semana, guerreirada!
*esta edição foi escrita acompanhada de um café do Ezi, Catuaí 62 fermentado, torrado pela Muy.