Esta edição foi escrita acompanhada de uma prensa francesa de catuaí vermelho 144, de cereja descascada, produzido por Renato rodrigues na Fazenda Vista Alegre, na Chapada Diamantina (BA) e torrado pelo Los Baristas
Curioso como o vernáculo de ambiente de trabalho compreende insultos, ameaças, atritos, discórdias com expressões irônicas, eufemismos e metáforas gourmet. Nem tudo pode ser dito de forma direta, clara. Por isso não se demite, dispensa-se; por isso não queremos emprego, mas recolocação profissional. Tantas outras palavras para criar novas regras sociais, espelha uma sociedade ao avesso, que simplesmente não consegue mais olhar no olho e falar o que deve ser dito.
É claro que, a prática social estimula convenções com o princípio de aveludar palavras duras. Importante que se tenha essa perspectiva. Já precisaram dar a notícia de falecimento para alguém próximo a quem morreu? Faltam eufemismos. Palavras devem ter medidas confortáveis, mas nos acostumamos mal, principalmente no mundo corporativo, em que há intenso convívio (seja presencial ou on-line). Ninguém está imune a ter sua batata assando por qualquer coisa que seja.
Para mim batata assando deveria significar coisa boa. Quando as beiradas começam a dar uma tostadinha, exalam aquele aroma inebriante de fast-food. Se você temperou com azeite extra virgem e uns raminhos de tomilho ou de alecrim, daí sente-se como se num almoço de forno à lenha em restaurante de nonna na Costa Amalfitana.
Mas não. O mundo corporativo conseguiu estragar até a mais básica das receitas mundo afora: batata assada. É fogo e sal. Só. Mas veio a galerinha do marketing e meteu uma batata recheada com cheddar e bacon; com frango e catupiry — a esta altura deve haver alguma de Nutella com banana aí. Virou lambança.
Quando a nossa batata começa a assar na firma, no contrato ou no contato, começam as crises de ansiedade. Ansiedade sendo justamente a reação a uma possibilidade de futuro ainda não consolidada. Faz parte dos jogos corporativos essa comunicação passivo-agressiva que leva nossa batata ao forno. O que precisamos é saber lidar com ela.
Se posso trazer uma pílula de experiência para vocês — considerando uma boa parte de assinantes jovens adultos desta publicação —, recomendaria agir como se você não soubesse de nada para si próprio. Portanto, não mude sua rotina, evite pensar no problema específico e tenha foco no trabalho em mãos. Afinal, é um destino que você não tem informações suficientes para assumir o leme. Sei que pode ser extenuante a insegurança de se algo acontecerá ou não. Pois você não vai aumentar em nem uma hora o curso da sua existência por mais ansioso que esteja (citando livremente o evangelista São Mateus).
Sua única forma de lidar com os rumores que precedem sua batata ir ao forno está na sua forma de encarar a circunstância para si. Então é hora de pensar em como você vai temperar sua batata. Se ela está assando, que fique uma delícia ao menos.
Coffice da semana: Café Angelita (DF)
O Café Angelita situa-se em uma das ruas do restaurante de Brasília (sendo a realmente intitulada como tal a da 404/405 Sul). Mas a entrequadra 408/409 Sul há um par de décadas se consolidou ponto gastronômico.
Para quem é de fora de Brasília, é bom saber que por aqui há uma setorização de vários serviços comerciais. É capaz de você achar uma padaria, lanchonete ou restaurante em qualquer comercial. Mas há algumas que só têm estabelecimentos e alimentação (fora uma drogaria ou um salão de beleza no meio do caminho).
Com um ano de funcionamento, trata-se de um local convidativo para fazer uma pausa para um café, mas tem como perfil mais refeições mesmo, com uma vibe bem de bistrô. Então vai ficar cheio na hora do café da manhã, no almoço, no fim da tarde e no jantar. A pegada empresarial é bem forte, a saber pelo grupo por trás da iniciativa: Don Durica. A marca se tornou uma das maiores referências de bufê de self-service da capital. É bem bom (bem caro também).
Na cafeteria, espelha-se o conceito do self-service: muito genérico, de tudo um pouco. O serviço de barismo é ok, mas o atendimento em geral pode ser meio caótico (algo recorrente em cafeterias muito espaçosas por aqui).
Trabalham com cafés da Anero, de que gosto, e métodos básicos (do espresso, mais ou menos, à v60). Acompanha extensa carta de doces, lanches, salgados e pães. A falta de especialidade me deixa um tanto aflito. Acabo indo pro mais próximo do êxito: pão de queijo. Afinal, Don Durica tem as raízes bem fincadas em Minas.