Esta edição foi escrita acompanhada de um espresso Cioccolatto da família Zancanaro, grãos Catuaí Vermelho 144
Força move o mundo naturalmente (physis) ou compulsoriamente (da emanação de movimento de um corpo para outro), segundo a tese aristotélica.
Este conceito tão basilar para as teorias da Física, também opera em outras instâncias da interação humana pela ordem filosófica. Inclusive para a filosofia do trabalho. Uma tarefa é completa apenas se as diferentes forças interagirem entre si.
Quem aborda o fenômeno por esta ótica é Nietzsche. Um dos seus maiores “tradutores”, Gilles Deleuze, concluiria a ideia de força como algo essencialmente plural, determinado justamente pela complexa teia relacional advindas da interação entre os corpos.
“Toda força está, portanto, numa relação essencial com uma outra força. O ser da força é o plural; seria rigorosamente absurdo pensar a força no singular. Uma força é dominação, mas é também o objeto sobre o qual uma dominação se exerce”
Deleuze, 1976, p. 5
Ou seja, basicamente a proposta da pluralidade da força se refere a um fenômeno que não define apenas a sujeição do objeto a ela, mas em sua correlação.
Esta pequena simplificação da teoria nietzscheniana — obviamente de escopo bem mais profundo que este — seria para nos ajudar a pensar que força também remete à coletividade.
E o que é o universo do trabalho senão o da prática deste coletivo?
Todo trabalho exige força coletiva. E toda força coletiva requer compensações de esforços. Por isso, ao carregar o objeto sujeito à força haverá sempre um desequilíbrio. Há quem coloque menos força de um lado, enquanto o outro lado tenta compensar os pontos de fraqueza.
E não por uma questão meramente de esforço, afinal a engrenagem do trabalho é diferente da máquina. Cada peça tem sua função, certo? Dizem que se cada um fizer sua parte no trabalho o resultado esperado é o do sucesso, como numa máquina.
O equívoco, porém, é não colocar na equação que “com gente é diferente”, já cantava Geraldo Vandré. Devemos considerar o fato de a vida social, histórica e emocional se incumbiu de gerar desigualdade e desequilíbrio (maiores ou menores a depender dos contextos culturais).
Talvez, por isso, muita gente carregue a falsa compreensão de que seria melhor (ou mais forte) se fizesse só.
Abro aqui o coração (e um pouco dos bastidores de Coffice) para vocês. Até o momento, este projeto nascido do impulso de escrever sobre café, trabalho remoto e, por fim, a correlação de forças que há entre ambos, partia de um esforço/propósito individual — característica da maioria das newsletters que vocês devem assinar hoje.
Coffice continuará como newsletter regularmente. Mas quando imaginei este projeto, o objetivo seria de implementar um serviço de fato para nossa comunidade. Não o poderia fazê-lo só.
Faltava-me força para seguir com Coffice em determinado momento. Há poucos meses o projeto saiu de um comunicado encerrando as atividades que estava preso nos rascunhos aqui da plataforma, para o principal foco de atenção e, claro, força.
Do esforço para o reforço, Coffice ganhou mais gente para compor sua empreitada e lança seu site oficial e suas primeiras parcerias em corpo de startup nesta semana!
A força, já dizia Nietzsche, evoca um trinômio de corpo-pensamento-força. Só assim se poderia interpretar o seu sentido. Dar sentido à “força” é, já não mais ancorado no filósofo alemão, ao final, um salto de “fé”, tema da próxima newsletter, em que encerraremos esta pequena trilogia iniciada dois posts atrás, com “foco”.
Coffice da semana: FSTA & CO (DF)
Já havia passado algumas vezes em anos pregressos por esta cafeteria repleta de etceteras, localizada atrás da Administração do Lago Sul, em Brasília (DF). Nunca havia dado bem certo praticar um coffice ali. Até que dei uma chance real e o fiz.
A Fsta & Co, primeiramente, fica num lugar meio escondido na comercial da QI 11. É menos cafeteira e mais outras várias coisas. O nome, aliás, é um grande indício disso. Trata-se de uma empresa que tem como principal negócio, aparentemente, os bolos, confeitos e soluções para festas, assinados pela Calissa Doces.
Como uma forma moderna (e inteligente) de se aproveitar o espaço físico, o local é também um café e um coworking. Ótimo lugar para nômades digitais. Também é um espaço para eventos e agrega ao seu cardápio uma coleção de jogos de tabuleiros, como nos bares nerds bacanas que ainda existem por aí.
Uma atividade comercial, no mínimo, curiosa. Abre cedo, porém com pouco foco na qualidade do café em si, mas com várias opções de comidinhas. A pegada não é a minha mesmo. Vai agradar mais à galera afeita aos exageros do food porn, repleto de Nutella e Leite Ninho — e mais outros ultraprocessados, tipo bala Fini, que pode compor um drinque.
Ao final, contudo, é um ótimo e diverso espaço para Brasília.